«A nossa vida é esse ataque vindo de fora, por mãos ocasionais, e que, descobrindo-nos que não somos "nós próprios" (com tudo o que, à nossa volta, nos dá essa segurança unitária), nos obriga a reconhecermo-nos "nós outros", "nós múltiplos", conforme as ocasiões e conforme as circunstâncias.»

(I am multiple - self portraits in the dusk #1)


«A nossa realidade é feita da existência virtual que todos temos nos outros e em nós próprios, e só dela. Isso, que me fez estremecer de pânico, deu-me imediatamente uma consciência de liberdade pavorosa: a liberdade humana era exactamente essa virtualidade hipotética que, nos outros e em nós, nos resguarda de sermos. ... E a liberdade era isso, sim, era isso: um corpo absoluto que se tornava, mais que humano, uma coisa mais que coisa; ou a virtualidade total de não sermos senão aquilo que, na virtualidade dos outros, nos dava a realidade de uma irrealidade absoluta também.»

Jorge de Sena, 'Sinais de Fogo'

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