22.6.2013, Lisbon

Salmo 42 

A gazela brame correndo para a água, e corre a minha alma para ti.

Quando verei Aquele de que tenho tanta sede?

Cresce-me o pranto se me perguntam onde está o Deus vivo.

Triste, lembro-me de haver caminhado para ti,

entre os gritos delirantes de um povo na sua festa.

Que tens, ó minha alma, que estremeces de melancolia?

Porquê gemer e não cantar Aquele

onde se apoia a tua face? 

Sobre os montes do exílio tua lembrança me enlouquece.

O abismo tem sede de abismo: tuas chuvas turbilhonantes

caem sempre sobre mim, no fragor das cataratas.

Nascia-me de ti um canto tumultuoso,

longamente agora esqueço nesta inspiração das lágrimas.

- Onde está o Deus vivo? – perguntam-me os frios de coração. E eu pergunto onde está o meu Deus vivo.

Que tens, ó minha alma, que estremeces de melancolia?

Porquê gemer e não cantar Aquele

onde se apoia a tua face? 

Onde está o Deus vivo, que se não esgota

o tempo das trevas? Sobre os montes do exílio, tremo e peço que revele a sua luz.

Que eu mencione em minha cítara um Deus de alta presença.

Que tens, ó minha alma, que estremeces de melancolia?

Porquê gemer e não cantar Aquele

onde se apoia a tua face?

“O bebedor nocturno”, poemas mudados para português por Herberto Helder

Something

Cabo Espichel, May 2013

Something approaches as I approach it. Something, I say, as if in an inappropriate romanticism. I shall look through the camera on that moment. Maybe, sometimes, expecting something to happen, but when it happens I decide not to click. As I've freed myself from that moment I await the next one and then click. Only then realizing that was the moment I was expecting, when I'm no longer in the center of the attention, 'something' had just happened apart of me.