"Beginnings" 

Todas as respostas fotogénicas à vida reconduzem-me ao princípio, aquele do qual não me recordo, não mais do que às memórias elas próprias aceitando a sua transmutação constante. Confesso que permito e retiro algum prazer dessa alteração e portanto não tenciono detê-la.
Seria mais sério sabê-lo e saber dizê-lo como muitos o escreveram, mas esse lirismo acabaria por soar falso e a recusa do princípio é, de uma forma muito própria, aquilo que nos põe a agir para diante. Uma espécie de felicidade da ignorância, também ela falsa, já que teima em regressar ao ponto primeiro para rectificá-lo depois de muitas permissões, mas em vão, acaba por deliciar-se na permeabilidade que ainda lhes tem. Não há, por isso, qualquer felicidade nisto que sinto e o princípio parece-me tão inconveniente quanto Cioran nos faz crer que é. É, também por isso, que volto a ele, e volto para ele todos os instantes que não vejo porque assim o quis. No fundo, fotografar é não ver, não querer ver, porque algo se detém  entre o que se vê e o olho e a cabeça e o homem. 








(M. for the life series, 2012)


il n'y a que des arrêts imaginaires








«Le mouvement consiste visiblement à passer d'un point à un autre, et par suite à traverser de l'espace. Or l'espace traversé est divisible à l'infini, et comme le mouvement s'applique, pour ainsi dire, le long de la ligne qu'il parcourt, il paraît solidaire de cette ligne et divisible comme elle. Ne l'a-t-il pas dessinée lui-même? N'en a-t-il pas traversé, tour à tour, les points successifs et juxtaposés? Oui sans doute, mais ces points n'ont de réalité que dans une ligne tracée, c'est-à-dire immobile; et par cela seul que vous vous représentez le mouvement, tour à tour, en ces différents points, vous l'y arrêtez nécessairement; vos positions successives ne sont, au fond, que des arrêts imaginaires. Vous substituez la trajectoire au trajet, et parce que le trajet est sous-tendu par la trajectoire, vous croyez qu'il coïncide avec elle. Mais comment un progrès coïnciderait-il avec une chose, un mouvement avec une immobilité?»


Henri Bergson, 'Matière et memoire'